De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), idoso é o indivíduo com 60 anos ou mais. O Brasil tem mais de 28 milhões de pessoas nessa faixa etária, número que representa 13% da população do país.
Como todos sabem, esse percentual tende a dobrar nas próximas décadas, segundo a Projeção da População, divulgada no ano passado pelo IBGE.
Para que os idosos de hoje e do futuro tenham qualidade de vida, é preciso que se garantam direitos em questões como saúde, trabalho, assistência social, educação, cultura, esporte, habitação e meios de transportes.
No Brasil, esses direitos são regulamentados pela Política Nacional do Idoso e pelo Estatuto do Idoso, sancionados em 1994 e em 2003, respectivamente. Ambos os documentos devem servir de balizamento para políticas públicas e iniciativas que promovam uma verdadeira melhor idade.
A população idosa tende a crescer no Brasil nas próximas décadas, como aponta a Projeção da População, do IBGE, atualizada em 2018. Segundo a pesquisa, em 2043, um quarto da população deverá ter mais de 60 anos, enquanto a proporção de jovens até 14 anos será de apenas 16,3%.
Segundo a demógrafa do IBGE Izabel Marri, a partir de 2047 a população deverá parar de crescer, contribuindo para o processo de envelhecimento populacional – quando os grupos mais velhos ficam em uma proporção maior, comparados aos grupos mais jovens da população.
A relação entre a porcentagem de idosos e de jovens é chamada de “índice de envelhecimento”, que deve aumentar de 43,19%, em 2018, para 173,47%, em 2060. Esse processo pode ser observado graficamente pelas mudanças no formato da pirâmide etária ao longo dos anos, que segue a tendência mundial de estreitamento da base (menos crianças e jovens) e alargamento do corpo (adultos) e topo (idosos).
A demógrafa comenta que as principais causas para essa tendência de envelhecimento seriam o menor número de nascimentos a cada ano, isto é, a queda da taxa de fecundidade, além do aumento da expectativa de vida do brasileiro.
Segundo as Tábuas Completas de Mortalidade, do IBGE, quem nasceu no Brasil em 2017 pode chegar, em média, a 76 anos de vida. Na projeção, quem nascer em 2060 poderá chegar a 81 anos.
Desde 1940, a expectativa já aumentou em 30,5 anos. As estatísticas levantadas pelo IBGE nesse assunto são tema de interesse de pesquisadores e gestores públicos. Izabel explica que as estimativas populacionais são tão importantes quanto a projeção a mais longo prazo.
“Se conseguirmos antever esses desafios, podemos aproveitar melhor essa característica da população atual que envelhece”, diz. “É fundamental que a gente tenha esses números, para saber quem somos, que idade temos, como a gente se distribui no território brasileiro”.
Na gestão pública, as alterações demográficas interferem diretamente em seu planejamento. As políticas de diversas áreas como saúde, trabalho, seguridade social e previdência social podem contribuir nos cuidados específicos com a população que envelhece.
A consultora em demografia e políticas de saúde, Cristina Guimarães Rodrigues, considera necessário ter políticas públicas voltadas para tratamentos de saúde, alimentação mais saudável e exercícios físicos, além de outras políticas, como construções e transportes mais acessíveis, que teriam impacto na saúde.
“Há o aumento natural de doenças crônicas”, cita, “que são doenças mais caras e que requerem tratamentos um pouco mais custosos” .Também de acordo com a PNS, 17,3% dos idosos apresentavam limitações funcionais para realizar as atividades “Se conseguirmos antever esses desafios, podemos aproveitar melhor essa característica da população atual que envelhece”
As pirâmides etárias são gráficos que auxiliam a visualizar a distribuição populacional por sexo e faixas etárias -– na base temos os mais jovens e no topo os mais velhos. É possível observar ao longo dos anos que, com o envelhecimento populacional e a queda da fecundidade, o formato vai deixando de ser piramidal, o que é característico de países desenvolvidos. Instrumentais de Vida Diária (AIVD), que são tarefas como fazer compras, administrar as finanças, tomar remédios, utilizar meios de transporte, usar o telefone e realizar trabalhos domésticos. E essa proporção aumenta para 39,2% entre os de 75 anos ou mais. Dulce demorou a perceber as novas necessidades que chegam com a idade:
“Eu nunca tinha pensado que ia ficar velha”, conta. Ela começou a se dar conta pelos comentários das outras pessoas e pela percepção do seu próprio corpo: “Muda um pouco, a gente fica mais debilitada, mas eu procuro sempre me cuidar, fazer os exames”, diz.
Uma boa saúde também é pré-requisito para que as pessoas possam trabalhar até mais tarde. Beatriz, amiga de Dulce, trabalha há 19 anos em uma empresa de seguros e diz que existe lugar no mercado para os idosos, mas depende da saúde.
“Quando eu comecei, com 50 e poucos anos, estava linda e maravilhosa, usava salto. Eu entrei uma pessoa, hoje estou outra. Só que o meu trabalho é light agora, por isso eu continuo lá”, comenta.
A professora titular de demografia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Simone Wajnman, lembra que no Brasil os trabalhadores idosos vêm de uma época em que estudar era privilégio de uma elite e, portanto, têm baixos níveis de escolaridade. “O que a gente vê hoje no mercado brasileiro é que quem tem mais chance de continuar trabalhando nas idades mais elevadas são aquelas pessoas com mais escolaridade, que exercem ocupações que não dependem de força física”, diz
Uma das iniciativas no mercado de trabalho pelo mundo, relatadas por Simone, é a alocação das pessoas idosas em áreas de atendimento ao público, ou em outras funções que exigem um profissional de perfil mais experiente e responsável.
Ela acredita que a possibilidade de redução ou flexibilização da jornada de trabalho para essas pessoas também é uma solução. As discussões sobre iniciativas e políticas públicas para idosos também devem levar em consideração que essa população não é homogênea.
Ana Amélia Camarano, pesquisadora do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), diz que o desafio para o futuro seria considerar as especificidades dentro da ampla faixa etária em que se inclui o idoso.
“Na verdade, ‘60 ou mais’ é muito heterogêneo. Você vai olhar no Estatuto do Idoso e tem políticas para 65, como transporte gratuito e prioridade no Imposto de Renda. Agora, tem a prioridade da prioridade”. Camarano cita a faixa de idosos a partir de 80 anos, que podem merecer um outro estatuto, dos “superidosos”, diz:
“A velhice ficou velha, mas não morreu. Você tem as fragilidades que são típicas da idade, mas cada vez mais tarde”. Copacabana, segundo o Censo de 2010, é o bairro com o maior número de idosos: são mais de 43 mil.
(Da revista Retratos, do IBGE, fevereiro de 2019, texto de Camille Perissé e Mônica Marli).