Pesquisa indica como começa o Alzheimer

       Com o uso de imagens de alta resolução em pacientes com a doença de Alzheimer e em animais de laboratório, pesquisadores do Centro Médico da Universidade Columbia, nos EUA, esclareceram três questões fundamentais sobre o Alzheimer: onde ele começa, por que começa ali e como se espalha.
       Além de permitir avanços no entendimento da doença, essas descobertas podem melhorar a descoberta precoce da doença, quando as medicações têm efeito mais efetivo no paciente. O estudo foi publicado na revista Nature Neuroscience, mundialmente conceituada, nesta semana.
       “Sabe-se há anos que o Alzheimer tem início numa região do cérebro conhecida como córtex entorrinal”, disseram os autores do estudo, Scott A. Small, e Boris e Rose Katz. “Porém, este estudo é o primeiro a mostrar em pacientes vivos que a doença começa especificamente no córtex entorrinal lateral, ou na sigla em inglês LEC.
       O LEC é considerada a porta de entrada para o hipocampo, que desempenha papel-chave na consolidação da memória de longo prazo, entre outras funções. Quando o LEC é afetado, outras áreas do hipocampo também são atingidas.”
       O Estudo mostra ainda que, com o tempo, o Alzheimer avança do LED diretamente para outras áreas do córtex cerebral, em particular para o córtex parietal, região ligada a diversas funções, que incluem orientação espacial e navegação. Os pesquisadores suspeitam que o Alzheimer avança “funcionalmente”, isto é, comprometendo a função dos neurônios no LEC e daí aos neurônios de áreas vizinhas.
A terceira descoberta do estudo é que a disfunção do LEC ocorre quando alterações nas proteínas tau e na proteína precursora amiloide (APP) também acontecem. O LEC é especialmente vulnerável ao Alzheimer porque acumula tau, que sensibiliza o LEC para a acumulação do APP. Juntas, as duas proteínas danificam os neurônios no LEC, dando início ao Alzheimer, afirma a coautora do estudo, Karen E. Duff.
Neste estudo, os pesquisadores usaram um equipamento fMRI de alta resolução para mapear defeitos metabólicos nos cérebros de 96 adultos no Washington Heights-Inwood Columbia Project (WHICAP). Nenhum dos adultos tinha sinais de demência quando foram selecionados.
“O estudo do Dr. Richard Mayeux, do WHICAP, nos  permitiu acompanhar um numeroso grupo de idosos saudáveis, alguns dos quais desenvolveram o Alzheimer”, disse o Dr. Small. “Este estudo nos deu a oportunidade única de visualizar e caracterizar pacientes com Alzheimer em estágio pré-clínico.”
Os 96 adultos foram acompanhados por três anos e meio, tempo em que se descobriu que 12 dos indivíduos desenvolveram uma forma suave de Alzheimer. Exame dos resultados das imagens fMRI desses indivíduos mostrou queda significativa do volume sanguíneo cerebral (CBV) – medida de atividade metabólica – no LEC, comparada a dos 84 outros adultos que se mostraram livres de demência.
Uma segunda parte da pesquisa se dedicou ao papel do tau e do APP na disfunção do LEC. Enquanto estudos anteriores tivessem sugerido que as disfunções do córtex entorrinal estariam associadas a anormalidades tanto do tau como do APP, não se descobriu como tais proteínas interagiam para precipitar a disfunção, particularmente na fase pré-clínica do Alzheimer.
       Para responder a tais questões, o time de pesquisadores criou três experimentos com animais, um com elevado nível de tau  no LEC, outro com elevado nível de APP e um terceiro com grau elevado de ambas as proteínas. Descobriram que a disfunção do LEC acontecia apenas nos animais com tau e APP.
       O estudo produziu implicações tanto para a pesquisa quanto para o tratamento. “Agora que sabemos como o Alzheimer começa, e que as alterações podem ser observadas através do fMRI, somos capazes de detectar o Alzheimer no seu mais remoto estágio pré-clínico, em que a doença é mais tratável e antes que se espalhe para outras regiões do cérebro, disse o Dr, Small”. Além disso, dizem os pesquisadores, o novo método por imagem pode ser usado para verificar a eficácia de promissoras drogas contra o Alzheimer nos estágios iniciais da doença. (da revista médica Nature Neuroscience)