Thomas Merton (1915-1968) foi um escritor e monge trapista da Abadia de Nossa Senhora de Gethsemani, em Kentucky, EUA. Seus escritos mais conhecidos incluem clássicos como “Homem Algum é uma Ilha” e “A Montanha dos Sete Patamares”, dentre mais de setenta livros publicados, contendo poesia, diários pessoais, coleção de cartas, crítica social e ecumenismo. Existe no Brasil uma Sociedade dos Amigos Fraternos de Thomas Merton, que busca despertar o interesse pela pessoa, vida e obra desse monge que inspira em muitos a busca da vida contemplativa. Segundo Merton, a contemplação é “a mais alta expressão de vida intelectual e espiritual do homem” e um fator de renovação de um mundo onde vigore a paz e a justiça.
Conheça algumas de suas reflexões:
“Não há folha que não esteja sob os Teus cuidados. Não há grito que, antes de ser emitido, Tu já não tenhas ouvido. Não há água nas rochas que lá não fosse escondida pela Tua sabedoria. Não há fonte oculta que não tenha sido ocultada por Ti. Não há grotão para uma casa solitária que não fosse planejada por Ti para ser uma casa solitária. Não há homem neste acre de matas que não tenha sido feito por Ti para este acre de matas. Porém, há mais consolo na substância do silêncio do que na resposta a uma pergunta. A eternidade está no presente. A eternidade está na palma da mão. A eternidade é uma semente de fogo cujas raízes bruscas derrubam as barreiras que impedem meu coração de ser um abismo.”
“É na solidão que nasce a mais profunda atividade. É nela que se descobre a ação sem movimento, o trabalho no absoluto repouso, a visão na obscuridade e, para além de todo desejo, a realização cujo limite se estende ao infinito.”
“O amor surge quando deixamos aquele que amamos ser plenamente ele mesmo, e não tentamos mudá-lo para que agrade `a nossa própria imagem. Do contrário amaremos nele apenas o nosso reflexo.”
“O que ganhamos viajando para a Lua se não somos capazes de atravessar o abismo que nos separa de nós mesmos? Esta é a mais importante de todas as viagens de descobrimento, sem o que todo o resto é não só inútil como desastroso.”
“É quase impossível superestimar o valor da verdadeira humildade e seu poder na vida espiritual. Pois ela nasce com a benção e se consuma com a perfeição de toda alegria. A humildade contém nela mesma a resposta para todos os grandes problemas da vida da alma. É a única chave para a fé, que faz nascer a vida espiritual: porque fé e humildade são inseparáveis. Na perfeita humildade todo egoismo desaparece e a alma já não vive para si mesma ou nela mesma para Deus: ela se perde e submerge Nele, e se transforma Nele.”
“Existe em nós um instinto de novidade, de renovação, de liberação do poder criativo. Buscamos despertar em nós a força que realmente muda nossa vida por dentro. E esse mesmo instinto nos diz que essa mudança é a recuperação do que há de mais profundo, mais original, mais pessoal em nós. Renascer não é tornar-se outra pessoa, mas nós mesmos.”
“A livre escolha não é em si a perfeição da liberdade. Mas nos ajuda a dar o primeiro passo rumo `a liberdade ou `a escravidão, `a espontaneidade ou `a compulsão. O homem livre é aquele cujas escolhas lhe deram o poder de sustentar-se por si mesmo e determinar sua vida de acordo com a sua mais elevada luz espiritual. O escravo, do ponto de vista espiritual, é aquele cujas escolhas destruíram toda a sua espontaneidade e o entregaram inteiramente `as suas compulsões, idiossincrasias e ilusões, de forma que ele nunca faz o que realmente quer, mas apenas o que precisa fazer.”
Cronologia breve
Thomas Merton é provavelmente o mais influente autor católico norte-americano do século 20. Sua autobiografia, A Montanha dos Sete Patamares, já vendeu mais de um milhão de exemplares e recebeu versões em mais de quinze idiomas. Merton escreveu mais de 70 livros, centenas de poemas e artigos abordando desde espiritualidade monástica, direitos civis, não-violência e corrida armamentista.
Ele nasceu em Prades, França. Seu pai neozelandês, Owen Merton, e sua mãe norte-americana, Ruth Jenkins, eram ambos artistas. Conheceram-se numa escola de pintura em Paris, casaram-se na igreja de Sant’Anna, no Soho londrino, e voltaram `a França quando Thomas nasceu, em janeiro de 1915.
Depois de uma adolescência e juventude de completa liberdade, Merton se converteu ao catolicismo quando frequentava a Universidade Columbia. Em dezembro de 1941, entrou para a Abadia de Gethsemani, uma comunidade de monges da Ordem dos Cistercienses de Estrita Observância (Trapistas), a mais ascética ordem monástica do catolicismo.
Os 27 anos de permanência em Gethsemani produziram profundas mudanças em sua consciência sobre si mesmo. A conversão em curso impeliu-o no rumo da política, em particular para os movimentos de paz dos anos 1960. Ao destacar as questões de raça e da paz como as mais urgentes daquele periodo, Merton tornou-se um grande defensor do movimento não-violento pelos direitos civis, que ele chamou de “certamente o maior exemplo de fé cristã aplicada `a história social dos Estados Unidos.” Por causa de seu ativismo social, recebeu críticas severas de católicos e não-católicos, que qualificaram seus textos políticos como impróprios para um monge.
Em seus últimos anos, Merton se interessou profundamente por religiões orientais, particularmente pelo zembudismo e pelo diálogo Leste-Oeste. Depois de diversos encontros com Merton, durante a viagem deste ao Extremo Oriente, em 1968, o Dalai Lama proclamou-o o monge de mais profunda compreensão do Budismo que qualquer outro cristão que ele conhecera. Foi durante essa viagem para a Conferência Leste-Oeste sobre o Diálogo Monástico, que Merton morreu, em Bancoc, no dia 10 de dezembro de 1968, vítima de um acidente de eletrocução ao passar suas roupas a ferro. A data marcava o 27˚ aniversário de sua entrada para o mosteiro de Gethsemani.