Cinco mitos e verdades
Chloe Reichel, da revista Journalist’s Resource
Em janeiro passado, a revista participou de um encontro de quatro dias sobre a saúde cardiovascular feminina, do qual participaram médicos e pesquisadores tendo à frente o Dr. Noel Bairey Merz, do Hospital Cedars Sinai em Los Angeles, e a Dra. Martha Gulati, chefe de Cardiologia da Universidade do Arizona e autora do livro “Salvando os corações femininos’
Os dois derrubaram mitos sempre repetidos a respeito de doenças cardiovasculares em mulheres e compartilharam informações sobre o assunto com os presentes.
Alguns dos tópicos de que trataram:
Mito: doença cardíaca é “coisa de homem”.
Verdade: Mulheres e homens têm índices similares de doenças cardiovasculares. Quase metade de todas as mulheres americanas – 60 milhões – apresentam doenças cardíacas que incluem insuficiência coronariana, arritmia, enfarte e hipertensão, segundo as estatísticas mais recentes da American Heart Association. Número equivalente de homens — 61.5 milhões — também as têm. Para fazer uma comparação, cerca de 3,5 milhões de mulheres americanas têm câncer de mama.
Mito: Mulheres não morrem de doença cardiovascular tanto quanto os homens.
Verdade: As doenças cardiovasculares são a causa principal de morte para ambos os sexos. Em 2017, 418.665 mulheres e 440.460 homens morreram por causa de doença cardiovascular.
Mito: Doenças do coração têm a mesma aparência em homens e mulheres.
Verdade: Bairey Merz disse que pesquisas descobriram que as doenças do coração em mulheres geralmente se apresentam diferentemente nas mulheres que nos homens.Por exemplo, as placas nas artérias de mulheres são diferentes das dos homens. E afetam as artérias delas de modo diverso.
O diagnóstico de enfarte em mulheres requer mais testes sanguíneos – Bairey-Merz acrescentou — porque o coração feminino é geralmente menor e fornece menor quantidade de troponina, uma proteína secretada pelo corpo quando o músculo do coração se encontra danificado.
Essas diferenças devem explicar por que as doenças cardíacas nas mulheres não são diagnosticadas e tratadas prontamente. Os pesquisadores, no entanto, sempre estudaram homens e mulheres de forma separada, disse Bairey Merz.
“O problema é convencer tanto a sociedade quanto os médicos de que a doença coronariana atinge também as mulheres, e não é um disfarce. Décadas de pesquisas focalizando apenas os homens cardíacos reforçaram o mito de que a doença coronariana é um problema masculino e geraram dados que se julgava aplicáveis apenas aos homens, padronizando os tratamentos.
Ao extrapolar tais dados do universo masculino para o feminino criou-se um viés padronizado de cuidado e prevenção, evitando-se uma atenção a aspectos importantes das doenças coronarianas na mulher.
Bairey Merz acrescentou que a “síndrome Yentl” (que iguala o tratamento para homens e mulheres). continua presente atualmente. As instituições de cuidados para as cardiopatias mantém ideias de gênero, por isso não pesquisam como a coisa se dá no universo feminino.
Mito: Homens e mulheres recebem a mesma atenção na doença cardiovascular.
Verdade: Homens estão propensos a receber de forma mais regular os cuidados estabelecidos para o problema do que as mulheres.
“Quando uma mulher tem um ataque do coração nós a tratamos da mesma forma? – pergunta a Dra. Gulatti. A resposta imediata é: não.”
Um estudo de 2012 do American Journal of Medicine concluiu que mulheres tendiam a receber atendimento menos fiel às regras estabelecidas pelos especialistas para ataques do coração. – e, portanto, ficando mais sujeitas a morrer por causa disso do que os homens.
A pesquisa se debruçou sobre uma amostra de 31.544 pacientes de 369 hospitais dos Estados Unidos entre os anos de 2002 e 2008.
Veja as diferenças apontadas pela pesquisa:
●Mulheres fazem menos uso de aspirinas ou betabloqueadores nas 24 horas após o ataque de coração – que é uma medida padrão adotada nessas situações.
● Elas resistem a se submeter a pro cedimentos mais invasivos para o tratamento de enfartes.
● Elas também resistem a receber transfusões de sangue nos 30 minutos após darem entrada no hospital – outro cuidado recomendado.
●Além disso, mulheres costumam resistir a fazer uma angioplastia coronariana – a inserção de uma fina cânula na artéria para eliminar bloqueios na circulação – o que é recomendado ser feito nos 90 minutos após a entrada da paciente no hospital.
Mulheres mais jovens vítimas de enfartes enfrentam consequências piores que as de mais idade – maiores índices de mortalidade e pior qualidade de vida.
“A única coisa que mulheres fazem melhor é morrer” – afirma a Dra. Gulati. Mesmo não tendo todas as respostas sobre as diferenças nas cardiopatias da mulher, se seguíssemos todas as orientações para atender tais emergências, nós salvaríamos vidas”.
Mito: Mulheres sofrendo enfartes reportam sintomas atípicos, como dor de estômago, dor no queixo e palpitações, mais que os sintomas típicos, como dor no peito e aperto.
Verdade: Pesquisas apontam que as mulheres tendem a ser mais fiéis quando reportam sintomas típicos, mas também indicam muitos outros sintomas.
Um trabalho de 2018 descobriu que uma porcentagem similar de mulheres e homens acusava dor no peito ao procurarem socorro médico para enfartes – 89,5% e 87%, respectivamente. As mulheres, entretanto, acrescentavam três ou mais sintomas que os homens. Curiosamente, porém, tanto as mulheres quanto os que as atendiam tendiam a não considerar esses sintomas como indicativos de enfarte do que os de pacientes homens e seus atendentes.
Por exemplo, mulheres tendiam a considerar os sintomas que apresentavam como relacionados a estresse ou ansiedade. Ainda, 53% das mulheres disseram que os que as atenderam não compreenderam que esses sintomas eram de situações coronarianas em comparação com 37% das alegações dos homens na mesma situação.