Da cabana escura ao palácio de cristal

A primeira parte da palestra da Profª Heloísa Pires no 11º Ciclo de Palestras Espíritas, realizada no Grupo Espírita Batuíra na sexta-feira, 7 de abril, foi dedicada à memória da psiquiatra suíça radicada nos EUA Elisabeth Kübler-Ross (1926/2004) e de seu livro On Death and Dying (Sobre a Morte e o Processo de Morrer), de 1969. Depois de árduas batalhas contra os preconceitos, sua obra humanitária foi finalmente reconhecida ao lhe ser atribuido em 2007 o National Women’s Hall of Fame dos Estados Unidos.
Antes, porém, ela teve de ver queimar até o chão o prédio de um abrigo que criara com seus recursos para acolher pacientes aidéticos, incendiado pela incompreensão e ignorância de seus vizinhos, entre outras ofensas e perseguições de que foi vítima. Foi por aí que a palestrante iniciou a abordagem do tema da tarde: “Preparação para a morte, que não existe”.
Heloísa Pires destacou que, após a publicação que a tornou conhecida e respeitada, Kübler-Ross, com a colaboração de outros cientistas, se aprofundou nos estudos da nova especialidade médica que é a tanatologia. Seu livro de 1969 identifica as fases nos períodos que antecedem a morte e cria métodos para medicos, enfermeiros e familiares acompanharem e ajudarem pacientes terminais. Ela foi pioneira no tratamento de pacientes com Aids e deu impulso à criação de uma rede de asilos específicos para doentes terminais.
Para grifar que muitas vezes a medicina convencional equivocadamente impõe tratamentos e terapias que geram ainda mais sofrimento a aqueles que já padecem dores severas, Heloísa contou, para ilustrar os métodos de Elisabeth, a história de um menino em estado muito adiantado de câncer com quem ela estava conversando em um hospital (ela tinha o hábito de dedicar bom tempo a ouvir pacientes), e o menino lhe disse que o que de melhor lhe poderia acontecer seria se livrar de máquinas e agulhas, que o faziam sofrer. Elisabeth conseguiu que o menino obtivesse licença para ir para casa.
Lá chegando, o menino pediu ao pai que fosse buscar no porão da casa uma bicicleta novinha que ele havia ganho e nunca usara; em seguida, fez o pai colocar as rodinhas que apoiam quem ainda não sabe pedalar, e saiu pela porta, para desespero dos pais e da doutora, que o acompanhara. O “passeio” durou vários minutos angustiantes para os três adultos. Quando já estavam muito preocupados, eles vêem o menino voltar para casa com um imenso sorriso que ia de uma orelha à outra. Em seguida, ele quis falar a sós com o irmãozinho mais novo. O menino menor, ao descer para a sala, revelou que a conversa deles teve dois pontos importantes: primeiro, que ele poderia herdar a bicicleta do mais velho: segundo, que, para isso, ele teria de jamais usar “aquelas rodinhas ridículas!”.
Segundo Heloísa, Elisabeth cunhou a frase: “A melhor preparação para a morte é amar o próximo”. E outra frase também de Elisabeth é o conhecido bordão: “A morte não existe.” A psiquiatra homenageada na palestra de Heloísa Pires também afirmou: “Nas escolas, mesmo infantis, deveria haver uma preparação para a morte”. Nas lições de Allan Kardec – lembrou a palestrante – “a morte é apenas a exaustão do corpo”. E, segundo o poeta Manuel Bandeira, viemos ao mundo com bilhetes de ida e volta…” “Assim”, continuou, “temos de nos atualizar em Kardec, para quem o que vale é fazer o melhor para o próximo.”
Heloísa também lembrou que todo sofrimento é fruto de insuficiência moral. “Então, temos de nos esforçar (pela elevação moral) para não fazermos feio ao passar para o mundo espiritual. “Se isto não for possível” – brincou ela –, “então ore e peça para ‘baixar’ no seu Centro!” E citou o episódio em que Sócrates é cercado por discípulos e pela esposa, Xantipa, depois de já ter ingerido cicuta. Estavam todos agitados e inconsoláveis, e Sócrates, irritado, pediu silêncio, que se aquietassem porque ele precisava de concentração para o que teria pela frente..
Então – acrescentou – não há razão para o medo da morte. “No tempo e no espaço ninguém é julgado: precisamos aprender a nos perdoar”. Um bom começo é a leitura da “vacina moral” que se encontra no Evangelho Segundo o Espiritismo. “Além disso” – pontuou – “a maior prova da misericórdia de Deus é a reencarnação”. E concluiu citando uma comparação feita por seu pai – o jornalista, filósofo, autor de importantes livros sobre a Doutrina Espírita – José Herculano Pires, em seu leito de morte: “Morrer”, disse ele, “é deixar uma cabana escura e entrar em um palácio de cristal”.(Sebastião Aguiar)

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Viver com menos, trabalhar mais, economizar.

 

Segundo um artigo recente da revista britânica The Economist, os americanos estão vivendo mais, mas se aposentam mais cedo que há 50 anos. As pensões se tornaram menos generosas, o Seguro Social também, as despesas médicas cresceram e, ainda por cima, eles não economizaram o que deveriam para a velhice.

Tudo somado, o sistema americano vive uma crise de crescimento e, segundo o recém-lançado livro de Charles Ellis, Alicia Munnell e Andrew Eschtruth, só há três saídas para a situação: os aposentados devem aprender a viver com menos, trabalhar por mais tempo ou economizar durante o período produtivo. As duas últimas opções são as mais recomendáveis, embora obviamente menos atraentes.

Primeiro, o problema. A duração média de vida dos aposentados aumentou de 16 anos, na década de 1960, para 20 anos, agora. Há 50% de chance de que um membro do casal aposentado viva até os 93 anos. A idade média deles é 64 anos (o limite mínimo é 62), mais baixa do que em 1960.

Para a maior parte dos americanos, a principal renda nesse período da vida provém do Seguro Social, a pensão do governo. Originalmente, o princípio que norteava o sistema era que o trabalhador recebesse de pensão o que havia pago  nos anos de trabalho. Esse princípio, porém, foi desvirtuado pelas aposentadorias precoces, em que se recebe muito mais do que se contribuiu. Se continuar como está, o fundo com que se paga o Seguro Social se esgotará em 2023, pois o sistema é essencialmente “saiu, recebeu”.

Várias tentativas de ajuste de suas finanças fizeram com que o Seguro Social pagasse menos, proporcionalmente, do que se ganhava quando na ativa. Durante as décadas de 1980 e 1990, essa taxa de substituição estava por volta de 40% para o trabalhador médio. Porém, a idade formal de aposentadoria está subindo para 67 anos. Os que se aposentam antes do tempo recebem menos que os demais. Os impostos ficaram mais pesados para esses trabalhadores: em 1985 apenas 10% dos que recebiam Seguro Social eram tributados; agora 37% são. Os cuidados médicos ficaram mais caros e são descontados diretamente das pensões. O efeito esperado é a queda da taxa de reposição para 31%, por volta de 2030. Se o Congresso decidir reabastecer o fundo de pensões com corte de benefícios, a taxa cairá ainda mais.

Enquanto isso, para trabalhadores de empresas privadas, os tipos de pensões que determinavam o salário final a ser recebido foram substituídos por contribuições menos generosas, conhecidas como 401 (k)s, que não só expõem esses empregados a investimentos de risco como impõem perdas de cerca de 9% no que recebem anualmente.

Dito isto, o que se pode fazer? Os trabalhadores precisarão trabalhar por mais tempo. No sistema atual do Seguro Social americano, adiar a aposentadoria para os 70 anos importa em um aumento de 76% na pensão, comparada com quem se aposentou aos 62.

De qualquer forma, os trabalhadores precisarão ter mais atenção com suas necessidades de ganho: uma pesquisa feita em 2014 mostrou que 36% dos trabalhadores nada tinham guardado para os tempos de descanso, e 56% nem mesmo tinham ideia de quanto dinheiro poderiam precisar. (de The Economist)