Caribe, simpatia e boa vida

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Boa para quem gosta de uma música maliciosa, cheia de requebros e letras dúbias, como o merengue, que se dança de forma muito semelhante à lambada, ou de curtir praias de areia branca e águas de diversos tons de azul e verde. Boa também para quem se interessa pela história deste Novo Mundo e valoriza a simpatia de um povo de bom astral, que recebe muito bem o turista brasileiro. Esta breve descrição, que parece anúncio publicitário, procura definir a República Dominicana, que divide com o pobre Haiti a ilha de Hispaniola, onde primeiro Colombo tocou ao descobrir a América, em 1492.

Quinhentos anos depois, o país descobre o turismo e se candidata a ser mais uma alternativa para quem viaja pelo Caribe mas procura destinos novos, menos explorados e mais econômicos, e exibe seu arsenal de atrativos, que nada ficam a dever ao que os centros mais sofisticados da região oferecem, como lindas praias cercadas de coqueiros, cassinos luxuosos, paisagens inesquecíveis e ritmos deliciosos.
A mútua simpatia que liga brasileiros e dominicanos se estabelece já no primeiro contato, no aeroporto da capital, Santo Domingo, onde os turistas são recebidos por conjuntos musicais típicos e pelos guias turísticos que vão transmitindo com bom humor e simpatia as primeiras informações sobre o país, durante o trajeto de trinta quilômetros que separa o aeroporto do centro da cidade. Lá fora, no asfalto da avenida beira-mar, o estrangeiro se espanta com um tráfego caótico mas inofensivo, onde velhos e superlotados automóveis rabo-de-peixe americanos, em estado de conservação alarmante (não há praticamente transporte coletivo no país), despejam seus passageiros na rua. Dos rádios e toca-fitas em altíssimo volume dos veículos, ganha o mundo o animado ritmo do merengue, como se ali fosse sempre Carnaval. Nos dias seguintes, o turista entenderá que essa agitação é permanente: nenhuma data especial está sendo comemorada.
Violência zero

A alegre energia da cidade está em toda parte, na forte musicalidade da população negra e mestiça que aborda o turista para oferecer cds, cartões postais, visitas guiadas e outros serviços, ou na leveza natural dos motoristas, que não deixam que a falta de sinalização nas ruas provoque discussões ou desentendimentos. Diferentemente do que acontece no Brasil, na República Dominicana a pobreza parece ser democraticamente distribuída entre a população: não se vêem mendigos ou miseráveis, e pode-se caminhar pelas ruas sem temer a violência.
Outra ausência que o visitante notará ao dar os primeiros passos pela cidade é o de uma coleta de lixo competente. A bonita Santo Domingo ainda joga lixo sobre si mesma, a ponto de desestimular o visitante que quer caminhar pelo Malecón, a sofisticada avenida litorânea orlada de coqueiros, onde estão os hotéis mais luxuosos da cidade. Também dificilmente se passa um dia sem que a cidade sofra mais um apagón, black-out provocado pela queda no fornecimento público de energia elétrica.
Em Santo Domingo, a maior parte dos turistas brasileiros fica hospedada no Jaraguá Renaissance Resort, da rede hoteleira Ramada Inn, que é um típico hotel americano no estilo Las Vegas, com cassino, restaurante, boa área verde, piscina e outros equipamentos de lazer distribuídos horizontalmente à beira-mar. Aliás, Santo Domingo inteira cresce na horizontal, desde que o mais recente de uma série de furacões e terremotos que vinham infernizando a vida dos dominicanos quase riscou a cidade do mapa, em 1936.
Jóias arquitetônicas

Plana, espraiada e ensolarada, embora não servida de praias no trecho urbano, Santo Domingo, com exceção de um setor bem delimitado, chamado centro histórico, não parece preocupada em se mostrar “a mais antiga cidade do Novo Mundo”, como de fato é, fundada que foi por Bartolomeu Colón, irmão do descobridor genovês Cristóvão Colombo, em 4 de agosto de 1496. Edifícios públicos modernos, pouco monumentais e que não recuam demasiado no tempo, dão um aspecto despretencioso à parte moderna da cidade – não fossem as três pontes sobre o rio Ozama, que corta a cidade, e que receberam os nomes dos três “pais da pàtria”: Duarte, Sanchez e Mella.
É na antiga cidade murada, que hoje ocupa alguns poucos quarteirões, percorridos tranqüilamente em algumas horas, que se concentra um número de construções de enorme valor arquitetônico e histórico, desde 1990 considerados patrimônio da Humanidade pela Unesco, e que testemunharam os primeiros anos da ocupação européia no novo continente.
O umbigo desse centro histórico – tomado de assalto todos os dias pela babel de turistas estrangeiros que se revezam nos pátios, varandas e corredores das construções – é o <em>Alcazar de Colón</em>, palácio fortificado do vice-rei Diego Colón, filho do almirante, e residência de sua família durante décadas. O palácio, com 22 cômodos, soube equilibrar os estilos espanhol e italiano de sua construção, com amplas varandas dando para o rio Ozama e para a esplanada do que hoje é a Praça de Espanha.
Percorrendo o centro histórico, o turista passará mais de uma vez pelas ruínas das antigas muralhas que cercavam a cidade, pela zona portuária, por ruas antigas mas de grande comércio, como a <em>Calle de las Damas, a Calle El Conde e La Atarazana, bairro de puro estilo espanhol, e por jóias da arquitetura quinhentista, como a Catedral de Santo Domingo, o Palácio dos Governadores, hoje Museu das Casas Reais, a casa de Hernán Cortez, o Panteão Nacional, a Fortaleza Ozama e o primeiro relógio de sol da cidade, entre 300 outros monumentos.
Almirante de pouca sorte

E o que dizer do Colombo original, o navegador, ao personagem por trás de todos esses monumentos? O que se sabe é que, depois de ter feito três viagens ao Novo Mundo e de ter sido passado para trás pelo esperto conterrâneo Américo Vespuccio, que deu seu nome ao continente, o almirante, desacreditado e pobre, morreu em Valladolid, em 20 de maio de 1506. Anos mais tarde, Dona Maria Toledo, sua nora, teria trazido seus restos mortais (e também os de seu filho Diego Colombo) para a Catedral de Santo Domingo. Em 1795, quando, por um acordo firmado entre Espanha e França, metade da ilha Hispaniola foi cedida aos franceses, que ali criaram o Haiti, colonizadores cubanos viram no tratado um risco de que toda a ilha viesse a cair em mãos estrangeiras, e reivindicaram a guarda dos restos do descobridor. Uma expedição foi mandada a Santo Domingo e saqueou a catedral, levando o primeiro caixão que encontrou sob a nave do altar-mór.
Em 1877, durante reformas na catedral, descobriu-se um caixão de chumbo com a inscrição “Ilustre Varão Dom Cristóvão Colombo, Primeiro Almirante da América”, gravada em Valladolid. Apesar da controvérsia com a pátria-mãe, que ainda hoje exibe os restos de Colombo em um belo jazigo na Catedral de Sevilha, a catedral de Santo Domingo afirma ter guardado os restos do mesmo navegador até 1992, quando se inaugurou na cidade, em homenagem aos 500 anos de descobrimento da América, um enorme mausoléu chamado <em>Farol de Colombo</em>, com recursos de todos os países americanos, para onde seus restos foram transferidos. Bem-humorados, os dominicanos, de qualquer forma, dizem que não traz muita sorte falar de Colombo.
Defronte a Porto Rico

A rodovia que separa Santo Domingo do balneário de Punta Cana, o paraíso caribenho do país, atravessa uma extensa planície tomada pelas duas maiores fontes de riqueza do país: a cana-de-acúcar, com capital na cidade de São Pedro de Macoris, e a pecuária, com quartel-general em La Romana.
Para se chegar a Punta Cana ainda é preciso passar por Higuey, centro religioso com sua basílica nacional, e pela pequena Otra Banda, cujas casas de madeira ganham as cores dos partidos políticos em disputa pela presidência da nação. Junto a La Romana está o rio Chavón, em cujas margens cheias de coqueiros e de aspecto oriental o diretor norte-americano Francis Ford Coppola ambientou algumas cenas monumentais de <em>Apocalypse Now</em>.</p>
<p>Punta Cana fica na pouco habitada costa oriental, que olha de frente a vizinha Porto Rico. A linha de coqueiros se perde de vista, por quilômetros, sombreando praias perfeitas, de areia fofa e águas em degradê de azul e verde, quie naquele trecho recebem o nome de Bávaro. O pacote comprado por boa parte dos brasileiros que visita a República Dominicana prevê cinco dias no Meliá Bávaro, resort da cadeia espanhola, onde espaçosos chalés avarandados se espalham por 240 mil metros quadrados de bosques e espelhos d‘água, com flamingos e pavões, ligados à sede do hotel – uma construção bem ventilada – por minicarros de serviço usados para o transporte dos hóspedes.</p>
<p>A população da praia e dos hotéis é 100% estrangeira, predominantemente europeus (alemães em maioria, italianos, franceses), canadenses, americanos, argentinos, despejados dos grandes Boeings que aterrissam semanalmente no aeroporto de Punta Cana.
A “dura rotina” prevê praia o dia inteiro, sob os coqueiros, em confortáveis espreguiçadeiras com direito a serviço de garçons, piscina e esportes náuticos como esqui aquático, windsurf, banana boat e jet-ski, que lá recebe o nome de wave runner. À noite, a diversão fica por conta dos animadores do hotel, já que qualquer outra alternativa de entretenimento fica a bons quilômetros de distância. Mas, como estamos em um país evidentemente musical, uma boa dica é juntar-se aos funcionários do hotel, que, depois de servido o jantar, organizam simpáticos bailes numa agradável praça vizinha. É a melhor maneira de se experimentara simpática realidade de um povo acolhedor e de bem com a vida. (Sebastião Aguiar)

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